É chegada a hora do sacrifício da tarde. O sacerdote está em pé no pátio do templo de Jerusalém, pronto para oferecer um cordeiro como sacrifício. Ergue o cutelo para imolar a vítima, mas nesse momento a Terra sofre uma convulsão. Aterrorizado ele solta o cutelo e o cordeiro escapa. Por sobre o estrondo do terremoto, ele houve um alto ruído de algo que se rasga, enquanto mãos invisíveis partem o véu do templo de alto a baixo.
Fora da cidade, nuvens negras envolvem uma cruz. Quando Jesus, o Cordeiro Pascal de Deus, exclama: “Está Consumado!”, Ele morre pelos pecados do mundo. O tipo encontrava o antítipo. O próprio evento ao qual os serviços do templo haviam apontado durante séculos, acabara de ocorrer. O Salvador completara Seu sacrifício expiatório, e pelo fato do símbolo haver encontrado a realidade, os rituais que antecipavam esse sacrifício haviam sido ultrapassados. Por essa razão, o véu rasgou-se, o cutelo caiu das mãos do sacerdote e o cordeiro escapou.
Há mais, porém, em relação à história da salvação. A questão vai além da cruz. A ressurreição e a ascensão de Jesus dirigem nossa atenção para o santuário celestial onde, não mais como Cordeiro, mas como sacerdote Ele ministra. O sacrifício foi oferecido uma vez por todas (Hebreus 9:28); agora Ele torna disponíveis a todos os benefícios de Seu sacrifício expiatório.
O Santuário Celestial
Deus instruiu Moisés quanto à construção do lugar em que, na Terra, Ele iria habitar (Êxodo 25:8); tratava-se do santuário, o qual funcionou sob o primeiro (velho) concerto (Hebreus 9:1). Esse era o lugar no qual se ensinava ao povo o caminho da salvação. Cerca de 400 anos mais tarde, o templo permaneceu em Jerusalém, construído pelo rei Salomão, ocupou o lugar do tabernáculo transportável de Moisés.
Depois que Nabucodonosor destruiu o templo, os exilados que retornaram de Babilônia construíram o segundo templo, que foi mais tarde embelezado grandemente por Herodes, o Grande; este último templo foi destruído pelos romanos no ano 70 d.C.
→ O Novo Testamento revela que o novo concerto também possui seu templo, e este se encontra no Céu. Nele Cristo trabalha como sumo sacerdote “à direita do trono da Majestade”. Esse santuário é o “verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, não o homem” (Hebreus 8:1 e 2).1 No monte Sinai, foi mostrado a Moisés um “modelo”, cópia ou miniatura do santuário celestial (Êxodo 25:9 e 40).2 As Escrituras identificam o santuário mosaico como “figura das coisas que se acham nos Céus” e “figura do verdadeiro” santuário (Hebreus 9:23 e 24). O santuário terrestre e seus serviços nos provêem, portanto, vislumbres especiais no tocante ao papel do santuário celestial.
Em toda a sua extensão, a Escritura revela a existência de um templo ou santuário no Céu (por exemplo, Salmo 11:4; Salmo 102:19; Miquéias 1:2 e 3).3 Em visão, o apóstolo João contemplou o santuário de Deus, que se acha no Céu (Apocalipse 11:19). Ele chegou a contemplar os itens que constituíram o modelo para mobília que ocupava o espaço do lugar santo do santuário terrestre, tais como (Apocalipse 8:3). Viu também a arca da aliança, que no santuário terrestre ocupava o Santo dos Santos (Apocalipse 11:19).
→ O altar do incenso do santuário celestial acha-se situado diante do trono de Deus (Apocalipse 8:3; Apocalipse 9:13), que se localiza no templo celestial de Deus (Apocalipse 4:2; Apocalipse 7:15; Apocalipse 16:17). Portanto, a cena do trono celestial de Deus (Daniel 7:9 e 10) ocorre no templo ou santuário celestial. É por essa razão que os juízos finais de Deus partem de Seu templo (Apocalipse 15:5 a 8).
Torna-se claro, portanto, que as Escrituras apresentam o santuário celestial como um lugar efetivamente existente (Hebreus 8:2), não como uma metáfora ou abstração.4 O santuário celestial é o lugar primário de habitação de Deus.
O Ministério no Santuário Celestial
A mensagem do santuário era uma mensagem de salvação. Deus utilizou os seus serviços para proclamar o evangelho (Hebreus 4:2). Os serviços do santuário terrestre eram “uma parábola para a época presente” até o tempo da primeira vinda de Cristo (Hebreus 9:9 e 10). “Através dos símbolos e rituais Deus propôs, por meio desse evangelho-parábola, focalizar a fé de Israel no sacrifício e ministério sacerdotal do Redentor do mundo, o ‘Cordeiro de Deus’ que haveria de remover todo o pecado do mundo (Gálatas 3:23; João 1:29).” 5
O santuário ilustra três fases do ministério de Cristo: (1) sacrifício substitutivo, (2) mediação sacerdotal e (3) julgamento final.
◊◊◊ O sacrifício substitutivo. Todos os sacrifícios do santuário simbolizava a morte de Jesus para o perdão dos pecados, revelando a verdade de que “sem derramamento de sangue não há remissão” (Hebreus 9:22). Esses sacrifícios ilustravam as seguintes verdades:
1. Deus julga o mundo – Pelo fato do pecado constituir uma profunda rebelião contra tudo o que é bom, puro e verdadeiro, ele não pode ser ignorado. “O salário do pecado é a morte…” (Romanos 6:23).
2. A morte substitutiva de Cristo – “Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas… mas o Senhor fez cair sobre Ele a iniqüidade de todos nós” (Isaías 53:6). “Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras” (I Coríntios 15:3).
3. Deus provê o sacrifício expiatório – Esse sacrifício é “Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no Seu sangue, como propiciação, mediante a fé” (Romanos 3:24 e 25). “Àquele que não conheceu pecado, Ele O fez pecado por nós; para que nEle fôssemos feitos justiça de Deus” (II Coríntios 5:21). Cristo, o Redentor, assumiu sobre Si o julgamento do pecado. Portanto, Cristo foi tratado como nós merecíamos, para que pudéssemos receber o tratamento a que Ele tinha direito. Foi condenado pelos nossos pecados, nos quais não tinha participação, para que fôssemos justificados por Sua justiça, na qual não tínhamos parte. Sofreu a morte que nos cabia, para que recebêssemos a vida que a Ele pertencia. ‘… pela Suas pisaduras fomos sarados’ (Isaías 53:5).” 6
Os sacrifícios do santuário terrestre eram repetitivos. Tal qual uma história, esse ritual – parábola da redenção – era contado e recontado ano após ano. Em contraste, o Antítipo – o verdadeiro sacrifício expiatório, a morte do Senhor – ocorreu no calvário uma vez por todas (Hebreus 9:26 a 28; Hebreus 10:10 a 14). Na cruz, a penalidade pelo pecado humano foi plenamente paga. A justiça divina foi satisfeita. Sob a perspectiva legal, o mundo havia sido restaurado ao favor divino (Romanos 5:18). A expiação, ou reconciliação, foi completada na cruz, conforme antecipada pelos sacrifícios, e o pecador penitente pode confiar plenamente nessa obra do Senhor, concluída.7
O Mediador Sacerdotal
Se o sacrifício expiou os pecados, por que era necessário um sacerdote?
→ O papel do sacerdote chamava atenção para a necessidade de mediação entre os pecadores e um Deus santo.
A mediação sacerdotal revela a gravidade do pecado e a alienação que ele ocasionou entre um Deus sem pecado e a criatura pecaminosa. “Assim como cada sacrifício antecipava a morte de Cristo, assim cada sacerdote antecipava o ministério mediatório de Cristo como sumo sacerdote no santuário celestial. ‘Portanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem’ (I Timóteo 2:5).” 8
1. Mediador e expiação – A aplicação do sangue expiatório durante o ministério mediatório dos sacerdotes era também vista como uma forma de expiação (Levítico 4:35). Em inglês, o termo atonement (expiação) implica reconciliação entre duas partes que se achavam rompidas. Assim como a morte expiatória de Cristo reconciliou o mundo com Deus, assim a Sua mediação, ou aplicação dos méritos de Sua vida sem pecado e morte substitutiva, faz da reconciliação ou expiação com Deus uma realidade pessoal para o crente.
O sacerdócio levítico ilustra o ministério redentor que Cristo tem desempenhado desde a Sua morte. Nosso Sumo Sacerdote, que serve “à destra do trono da Majestade nos Céus”, trabalha como “ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, não o homem” (Hebreus 8:1 e 2). O santuário celestial é o grande centro de comando, de onde Cristo conduz Seu ministério sacerdotal em favor de nossa salvação. Ele é capaz de “salvar totalmente os que por Ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles” (Hebreus 7:25). Portanto, somos estimulados a nos aproximar “confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em, ocasião oportuna” (Hebreus 4:16).
No santuário terrestre, os sacerdotes desempenhavam dois ministérios distintos – o ministério diário no lugar santo, ou primeiro compartimento, e o ministério anual no lugar santíssimo, ou segundo compartimento. Esses serviços ilustravam o ministério sacerdotal de Cristo.9
2. O ministério no lugar santo – O ministério sacerdotal no lugar santo do santuário poderia ser caracterizado como um ministério de intercessão, perdão, reconciliação e restauração. Sendo contínuo provia contínuo acesso a Deus, através do sacerdote. Simbolizava a verdade de que o pecador arrependido dispõe de imediato e contínuo acesso a Deus através do ministério sacerdotal de Cristo como intercessor e mediador (Efésios 2:18; Hebreus 4:14 a 16; Hebreus 6:20; Hebreus 9:24; Hebreus 10:19 a 22).
Quando o pecador penitente vinha ao santuário com um sacrifício, depunha as mãos sobre a cabeça do inocente animal e confessava seus pecados. Esse ato transferia simbolicamente seus pecados e penalidade para a vítima. Como resultado, ele obtinha perdão de suas transgressões.10 Assim estabelece The Jewish Encyclopedia:
“A deposição de mãos sobre a cabeça da vítima é um rito comum, pelo qual são efetuados a substituição e a transferência de pecados.” “Em cada sacrifício acha-se presente a idéia de substituição; a vítima assume o lugar do pecador humano.” 11
O sangue da oferta pelo pecado era aplicado de duas formas:
a. Se ele fosse levado para o lugar santo, era aspergido diante do véu interno e colocado nos cantos do altar de incenso (Levítico 4:5 a 7; Levítico 4:17 e 18).
b. Se não era conduzido para o lugar santo, sua colocação era feita nos cantos do altar de holocausto, no pátio (Levítico 4:25 e 30). Nesse caso, o sacerdote comia parte da carne do sacrifício (Levítico 6:25, 26 e 30). Em ambos os casos, os participantes entendiam que seus pecados e responsabilidades eram transferidos ao santuário e seu sacerdócio.12
“Nesta parábola ritual o santuário assumia a culpa e a responsabilidade do penitente – pelo menos durante certo tempo – quando o penitente oferecia a oferta pelo pecado, confessando seus erros. Ele saía dali perdoado, certo da aceitação divina. Assim, no serviço antítipo, quando um pecador é levado pelo Espírito Santo a aceitar a Cristo como seu Salvador e Senhor, Cristo assume seus pecados e responsabilidade. Ele é perdoado graciosamente. Cristo é o Fiador do crente, bem como o seu Substituto.” 13
Tanto no tipo quanto no antítipo, o ministério do lugar santo centraliza-se primariamente no indivíduo. O ministério sacerdotal de Cristo providencia o perdão do pecador e sua reconciliação com Deus (Hebreus 7:25). “Em consideração a Cristo, Deus perdoa o pecador arrependido, imputa-lhe o reto caráter e a obediência de Seu Filho, perdoa seus pecados, e registra seu nome no Livro da Vida, como um dos Seus filhos (Efésios 4:32; I S. João 1:9; II Coríntios 5:21; Romanos 3:24; Lucas 10:20). E a medida que o crente permanece em Cristo, a graça espiritual lhe é mediada através de nosso Senhor, por meio do Espírito Santo, de modo que ele alcança maturidade espiritual e desenvolve as virtudes e graças que refletem o divino caráter (II Pedro 3:18; Gálatas 5:22 e 23)”.14 O ministério no lugar santo efetua a justificação e santificação do crente.
O Julgamento Final
Os eventos do Dia da Expiação ilustram as três fases do divino julgamento final. São elas:
1. O “julgamento pré-milenial” ou “juízo investigativo”, que também é conhecido como julgamento pré-Advento”;
2. O “julgamento milenial” e
3. O “julgamento executivo”, que ocorre ao final do milênio.
O Ministério no Lugar Santíssimo
A segunda divisão do ministério sacerdotal acha-se centralizada primariamente no santuário, tendo a ver com a purificação do santuário e do povo de Deus. Essa forma de ministério, que focalizava o lugar santíssimo do santuário e que podia ser desempenhada tão-somente pelo sumo sacerdote, limitava-se a um único dia do calendário religioso.
A purificação do santuário requeria dois bodes – o bode do Senhor e o bode emissário (Azazel, em hebraico). Ao sacrificar o bode do Senhor, o sumo sacerdote efetuava a expiação pelo “santuário [na verdade, ‘santuário’ em todo este capítulo refere-se ao lugar santíssimo], pela tenda da congregação [o lugar santo], e pelo altar [o pátio]” (Levítico 16:15 a 21).
Tomando o sangue do bode do Senhor, o qual representava o sangue de Cristo, e levando-o para o interior do lugar santíssimo, o sumo sacerdote aplicava-o diretamente, na própria presença de Deus, ao propiciatório – a cobertura da arca, dentro da qual estavam contidos os Dez Mandamentos – a fim de satisfazer as exigências da santa Lei de Deus.
→ Sua ação simbolizava o imensurável preço que Cristo teria de pagar pelos nossos pecados, revelando quão ansioso Deus Se sente por efetuar a reconciliação de Seu povo consigo mesmo (II Coríntios 5:19). Então, o sumo sacerdote aplicava esse sangue ao altar do incenso e ao altar dos holocaustos, os quais haviam sido diariamente aspergidos com o sangue que representava os pecados confessados. Dessa forma, o sumo sacerdote efetuava a expiação pelo santuário, bem como pelo povo, efetuando assim a purificação de ambos (Levítico 16:15 a 21; Levítico 16:30 a 33).
Passo seguinte, representando a Cristo como mediador, o sumo sacerdote assumia sobre si próprio os pecados que haviam poluído o santuário e os transferia para o bode vivo, Azazel, o qual era então conduzido para fora do acampamento do povo de Deus. Este ato removia os pecados do povo, os quais a esta altura haviam sido simbolicamente transferidos dos crentes arrependidos para o santuário através do sangue ou da carne dos sacrifícios do ministério diário de perdão. Desde modo o santuário era purificado e preparado para mais um ano de atividade ministerial (Levítico 16:15 a 21; Levítico 30:37).15 E assim todas as coisas eram colocados em ordem entre Deus e Seu povo.16
→ Vemos assim que o dia da expiação ilustra o processo de julgamento que lida com a erradicação do pecado. A expiação levada a efeito nesse dia “prefigurava a aplicação final dos méritos de Cristo a fim de banir a presença do pecado por toda a eternidade, e para empreender plena reconciliação do Universo, sob o governo harmonioso de Deus”.17
Azazel, o Bode Emissário.
“A tradução ‘bode emissário’, do hebraico azazel, provém da Vulgata, com a expressão ‘caper emissarius’, ‘ bode a ser mandado embora’ (Levítico 16:8).18 O exame cuidadoso de Levítico 16 revela que azazel representa Satanás, e não Cristo, conforme alguns têm imaginado. Os argumentos que apóiam esta interpretação, são:
(1) O bode emissário não era morto como sacrifício, e assim não poderia ser usado como um meio para trazer o perdão, uma vez que ‘sem derramamento de sangue não há remissão’ (Hebreus 9:22);
(2) O santuário era inteiramente purificado pelo sangue do bode do Senhor antes que o bode emissário fosse introduzido no ritual (Levítico 16:20).
Estudando com atenção, nota-se que a passagem trata o bode emissário como um ser pessoal que é o oposto, e se opõe, a Deus.
Levítico 16:8 diz literalmente:
‘Um para o Senhor, o outro para Azazel’. – Portanto, na compreensão da parábola do santuário, é mais coerente ver o bode do Senhor como símbolo de Cristo e o bode emissário – Azazel – como símbolo de Satanás.” 19
Nisto Cremos, CPB, 4.ª ed.,1997, pág.408.
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As Diferentes Fases do Julgamento
O ritual do bode emissário no dia da expiação apontava para além do Calvário, ao fim do último problema do pecado – o banimento deste e de Satanás. A “plena responsabilidade pelo pecado será devolvida a Satanás, o seu originador e instigador. Satanás e seus seguidores, bem como todos os efeitos do pecado, serão banidos do Universo por meio da destruição.
A expiação através do julgamento, portanto, fará brotar um Universo plenamente reconciliado e harmonioso (Efésios 1:10). Este é o objetivo que a segunda e última fase do ministério de Cristo como sacerdote do santuário celestial irá atingir”.1 Esse julgamento testemunhará a vindicação final de Deus diante do Universo.2 O Dia da Expiação retratava as três fases do julgamento final:
a. A remoção dos pecados do santuário relaciona-se com a primeira fase – investigativa, ou fase pré-Advento – do julgamento. Ela “focaliza os nomes anotados no Livro da Vida, assim como Dia da Expiação focalizava a remoção dos pecados confessados do penitente, do santuário, falsos crentes serão eliminados; a fé dos genuínos crentes e sua união com Cristo serão reafirmados perante o Universo leal, e os registros de seus pecados serão apagados”.3
b. O banimento do bode emissário para o deserto simbolizava a prisão de Satanás durante o milênio, na desolada Terra; este milênio começa por ocasião do Segunda Advento e coincide com a segunda fase do julgamento final, a qual ocorre no Céu (Apocalipse 20:4; I Coríntios 6:1 a 3). Este julgamento milenial envolve a revisão do julgamento dos maus e será empreendido em benefício dos remidos, ao conceder-lhes o vislumbre do trato de Deus com o pecado e com aqueles pecadores que não se salvarão. Será respondida assim qualquer pergunta que os salvos possam ter a respeito da justiça e da misericórdia de Deus.
c. O acampamento purificado simboliza os resultados da terceira fase do julgamento, a fase executiva, quando o fogo destruirá os maus e purificará a Terra (Apocalipse 20:11 a 15; Mateus 25:31 a 46; II Pedro 3:7 a 13).
O Santuário Celestial na Profecia
Na discussão anterior, focalizamos o santuário a partir da perspectiva de tipo e antítipo. Queremos agora examiná-lo a partir da perspectiva profética.
A Unção do Santuário Celestial.
A profecia das 70 semanas de Daniel 9 apontava para a inauguração do ministério sacerdotal de Cristo no santuário celestial. Um dos últimos eventos, que deveria ocorrer durante os 490 anos, era a unção do “santo dos Santos” (Daniel 9:24). A expressão hebraica godesh godeshim, que foi traduzida como “santíssimo”, significa literalmente “Santos dos Santos”. A frase seria melhor traduzida, portanto, como “ungir o Santo dos Santos” (como, convém observar, ela realmente aparece na Versão Almeida Revista e Atualizada).
Assim como em sua inauguração o santuário terrestre foi ungido com óleo sagrado a fim de que tal ato o consagrasse para os seus serviços, assim, em sua inauguração, o santuário celeste também deveria ser consagrado para o ministério intercessório de Cristo. Com Sua ascensão pouco tempo depois de Sua morte (Daniel 9:27), Cristo iniciou Seu ministério como Sumo Sacerdote e intercessor.
A Purificação do Santuário Celestial.
Falando do santuário celestial, o livro de Hebreus afirma: “Com efeito, quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue: e sem derramamento de sangue não há remissão. Era necessário, portanto, que as figuras das coisas que se acham nos Céus se purificassem com tais sacrifícios, mas as próprias coisas celestiais com sacrifícios a eles superiores” – o precioso sangue de Cristo (Hebreus 9:22 e 23). Vários comentaristas bíblicos têm observado este ensinamento bíblico:
• Henry Alford assinalou que “o próprio Céu necessitava, e obteve purificação através do sangue expiatório de Cristo”.4
• B. F. Westcott comentou: “Pode-se dizer que mesmo as ‘coisas celestiais’, na extensão em que personificam as condições da futura vida do homem, adquiriram pela Queda alguma coisa que necessitava ser purificada.” Foi o sangue de Cristo, disse Westcott, que se achava disponível “para a purificação do celestial arquétipo do santuário terrestre.” 5
→ Assim como os pecados do povo de Deus eram pela fé transferidos para a oferta pelo pecado e então simbolicamente transportados para o santuário terrestre, assim, sob o novo concerto, os pecados confessados pelo penitente são pela fé colocados sobre Cristo.6
De modo como durante o Dia da Expiação típico a purificação do santuário removia os pecados que já se haviam acumulado, assim o santuário celestial é purificado pela remoção final de todos os pecados registrados nos livros celestiais. Mas antes que os registros sejam finalmente limpos, serão eles examinados a fim de ser determinar quem, através de arrependimento e fé em Cristo, está apto a entrar em Seu reino eterno. Portanto, a purificação do santuário celestial envolve uma obra de juízo investigativo7 que reflete plenamente a natureza do Dia da Expiação como dia de julgamento.8
Este julgamento, ratifica as decisões quanto a quem deverá estar entre os salvos e quem estará entre os perdidos. Deve ocorrer antes da Segunda Vinda, pois por ocasião do Segundo Advento, Cristo deverá retribuir “a cada um segundo as suas obras” (Apocalipse 22:12). Naquela oportunidade também serão respondidas as acusações de Satanás (Apocalipse 12:10).
Todos aqueles que verdadeiramente se arrependeram e pela fé reclamaram o sangue do sacrifício expiatório de Cristo, terão assegurado o perdão. Quando seus nomes forem chamados a julgamento e se constatar que eles estão revestidos pelo manto da justiça de Cristo, seus pecados serão apagados e eles serão considerados dignos da vida eterna. (Lucas 20:35).
“Aquele que vencer”, disse Jesus, “será assim vestido de vestiduras brancas, e de modo nenhum apagarei o seu nome do Livro da Vida; pelo contrário, confessarei o seu nome diante de Meu Pai e diante dos Seus anjos” (Apocalipse 3:5).
O profeta Daniel revela a natureza desse julgamento investigativo. Enquanto o poder apóstata simbolizado pelo chifre pequeno leva avante suas blasfêmias e sua obra de perseguição contra Deus e Seu povo na Terra (Daniel 7:8, 20, 21 e 25), tronos são colocados no Céu e Deus preside a sessão do tribunal nesse julgamento final. Ele ocorre na sala do trono do santuário celestial e é assistido por milhões de testemunhas celestiais. Quando o tribunal entra em funcionamento, os livros são abertos, assinalando o início do processo de investigação (Daniel 7:9 e 10). Somente depois desse julgamento é que o poder apóstata é destruído (Daniel 7:11).9
A Ocasião do Julgamento
Tanto o Pai quanto Cristo acham-Se envolvidos no juízo investigativo. Antes de Seu retorno à Terra nas “nuvens do Céu”, Cristo, na qualidade de “Filho do homem” vem “com as nuvens do Céu” até o “Ancião de Dias”, Deus Pai, e posta-Se diante dEle (Daniel 7:13). Desde o momento de Sua ascensão, tem Jesus Cristo trabalhado como Sumo Sacerdote, nosso intercessor diante de Deus (Hebreus 7:25). Mas nessa oportunidade, Ele vem para receber o reino (Daniel 7:14).
O eclipse do ministério sacerdotal de Cristo.
Daniel 8 fala-nos a respeito da controvérsia entre o bem e o mal e do triunfo final de Deus. Esse capítulo revela que no espaço decorrido entre a inauguração do ministério sumo-sacerdotal de Cristo e a purificação do santuário celestial, um poder terrestre haveria de obscurecer o ministério de Cristo.
O carneiro da visão representava o império Medo-Persa (Daniel 8:2) – sendo que dois chifres, o mais alto apareceu por último, retratando claramente as duas fases do império, em que os persas dominantes entraram em cena por último. Conforme Daniel predissera, esse reino oriental exaltava o seu poder “para o ocidente, e para o norte, e para o sul”, e assim se engrandeceria (Daniel 8:4).
O bode macho que vinha do ocidente simbolizava a Grécia, com o seu grande chifre, o “rei primeiro” representando Alexandre, o Grande (Daniel 8:21). Provindo “do ocidente”, Alexandre rapidamente derrotou os persas. Depois, dentro de poucos anos após a sua morte, o império foi dividido em “quatro reinos” (Daniel 8:8 e 22) – os reinos de Cassandro, Lisímaco, Seleuco e Ptolomeu.
“No fim de seu reinado” (Daniel 8:23), ou, em outras palavras, próximo ao fim do dividido império grego, erguer-se-ia um “chifre pequeno” (Daniel 8:9). Alguns consideram Antíoco Epifânio, um rei sírio que governou sobre a Palestina durante curto período no segundo século a.C., como sendo o cumprimento desta porção da profecia.
Outros, incluindo a maioria dos reformadores, têm identificado este chifre pequeno como Roma, tanto na fase pagã quanto na fase papal. Esta última interpretação corresponde exatamente às especificações dadas por Daniel, ao passo que a outra não o faz.10 Observe os seguintes pontos:
a. O poder do chifre pequeno estende-se desde a queda do império grego até o “tempo do fim” (Daniel 8:17). Somente Roma pagã e papal, preenche essas especificações quanto ao tempo.
b. As profecias de Daniel 2, 7 e 8 correm paralelamente. Os quatro metais da imagem de Daniel 2, assim como as quatro bestas de Daniel 7 representam os mesmos impérios mundiais: Babilônia, Medo-Persa, Grécia e Roma. Tanto os pés de ferro e barro como os dez chifres do quarto animal representam as divisões do império romano; esses estados divididos deveriam continuar até o Segundo Advento. Observe que ambas as profecias indicam que Roma sucederia a Grécia, e que ela seria o último império antes da Segunda Vinda de Cristo e do julgamento final. O chifre pequeno de Daniel 8 encaixa-se na mesma moldura; sucede a Grécia e é destruído de modo sobrenatural, ou “sem mão humana” (Daniel 8:25, Daniel 2:34).11
c. A Medo-Persa é identificada como “grande”, a Grécia é apresentada como “muito grande” e o chifre pequeno como “excessivamente grande” (Daniel 8:4, 8 e 9). Roma, um dos maiores impérios mundiais, preenche bem esta especificação.
d. Somente Roma expandiu o seu império para o sul (Egito), para o leste (Macedônia e Ásia Menor) e para a “terra gloriosa” (Palestina), exatamente como predissera a profecia (Daniel 8:9).
e. Roma ergueu-se contra o “Príncipe do exército”, o “Príncipe dos príncipes” (Daniel 8:11 e 25), que é ninguém menos que Jesus Cristo. “Contra Ele e Seu povo, assim como contra o Seu santuário, o poder de Roma desenvolveu a mais extraordinária guerra. Esta descrição cobre tanto a fase pagã quanto a fase papal de Roma. Enquanto Roma pagã atingiu a Cristo e até mesmo destruiu o templo de Jerusalém, Roma papal efetivamente obscureceu o ministério mediatório, sacerdotal de Cristo em favor dos pecadores no santuário celestial (Hebreus 8:1 e 2), ao instituir um sacerdócio que pretende oferecer perdão através da mediação humana.” 12 Esse poder apóstata alcançaria bastante êxito, pois “deitou por terra a verdade; fez isto e prosperou” (Daniel 8:12).
Nisto Cremos, CPB, 4.ª ed.,1997, pág.408.
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O Tempo de Restauração, Purificação e Julgamento
Deus não permitiria que o eclipsamento da verdade relativa ao ministério sumo-sacerdotal de Cristo prosseguisse indefinidamente. Através de homens e mulheres fiéis e tementes a Deus, Ele reavivaria Sua causa. A reforma redescobriu parcialmente o papel de Cristo como nosso Mediador, o que ocasionou grande reavivamento no seio do mundo cristão. Contudo, havia ainda outras verdades a serem reveladas acerca do ministério celestial de Cristo.
A visão de Daniel indicara que o papel de Cristo como nosso sumo sacerdote tornar-se-ia especialmente notável no “tempo do fim” (Daniel 8:17), quando Ele começasse Sua obra especial de purificação e julgamento, em adição ao Seu contínuo ministério intercessório (Hebreus 7:25).1 A visão especifica o momento em que Jesus deveria começar seu antitípico ministério do dia da expiação – a tarefa de juízo investigativo (Daniel 7) e purificação do santuário – “Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado” (Daniel 8:14).2 Uma vez que a visão se refere ao tempo do fim, o santuário aqui mencionado não pode ser o santuário terrestre – pois este já havia sido destruído em 70 d.C. Portanto, a profecia se refere ao santuário do novo concerto no Céu – o lugar em que Jesus ministra em favor de nossa salvação.
O que são os 2300 dias ou “2300 tardes e manhãs”, segundo o original hebraico? 3
De acordo com Gênesis 1, “tarde e manhã” equivale a um dia. Um período de tempo em profecia simbólica também é simbólico: um dia profético representa um ano. Assim, de acordo com o que muitos cristãos ao longo dos anos têm acreditado, os 2300 dias de Daniel 8 significam 2300 anos literais.4
a. Daniel 9: a chave para desvendar Daniel 8.
Deus comissionou o anjo Gabriel a fazer o profeta Daniel “entender a visão” (Daniel 8:16). Mas o impacto das informações foi tão grande, que Daniel adoeceu e Gabriel teve de descontinuar a explicação. Encerrando o capítulo 8, Daniel observou: “Espantava-me com a visão, e não havia quem a entendesse” (Daniel 8:27).
Em virtude dessa interrupção, Gabriel teve de retardar a explicação relativa ao período de tempo envolvido – o único aspecto da visão que ainda não havia sido explicado. Daniel 9 descreve o seu retorno com o objetivo de completar a tarefa. Portanto, Daniel 8 e 9 acham-se conectados, sendo o segundo a chave para com a qual desvendamos o mistério dos 2300 dias.5 Quando Gabriel apareceu, disse a Daniel: “No princípio das tuas súplicas, saiu a ordem, e eu vim para to declarar… considera, pois, a coisa, e entende a visão.” (Daniel 9:22 e 23).
Ele está se referindo retroativamente à visão dos 2300 dias. Seu desejo de explicar os elementos de tempo da visão de Daniel 8 torna claro por que ele começa sua explicação referindo-se a profecia das setenta semanas.
As setenta semanas, ou 490 anos, estavam “determinada” ou “decretadas” para os judeus e Jerusalém (Daniel 9:24). O verbo hebraico subjacente é chathak. Embora esse verbo seja usado somente uma vez nas Escrituras, seu significado pode ser compreendido a partir de outras fontes hebraicas.6 O conhecido dicionário hebraico-inglês de Genesius estabelece que o significado apropriado do termo é “cortar”, ou “dividir”.7
A partir desta retrospectiva, os comentários de Gabriel são muito reveladores. Ele diz a Daniel que os 490 anos devem ser cortados – ou separados – do período maior de 2300 anos. Como ponto inicial dos 490 anos, Gabriel refere-se à ordem “para restaurar e para edificar Jerusalém” (Daniel 9:25), o que ocorreu em 457 a.C., o sétimo ano do reinado de Artaxerxes.8
Os 490 anos finalizaram em 34 d.C.. Ao separarmos 490 anos dos 2300 anos, restam ainda 1810 anos. Uma vez que os 2300 anos deveriam estender-se 1810 anos para além do ano 34 d.C., concluímos que devam alcançar o ano de 1844.9
b. Procurando uma compreensão mais plena do ministério de Cristo.
Durante a porção inicial do décimo nono século, muitos cristãos – incluindo batistas, presbiterianos, medotistas, luteranos, anglicanos, episcopais, congregacionalistas e discípulos de Cristo – dedicaram estudo intensivo às profecias de Daniel 8.10 Todos esses estudiosos da Bíblia aguardavam que algum acontecimento muito significativo ocorresse ao final dos 2300 anos. Dependendo de sua compreensão do poder do chifre pequeno e do santuário, eles esperavam que esse período profético terminasse com a purificação da Igreja, com a libertação da Palestina e de Jerusalém, com o retorno dos judeus, com a queda do poder turco ou muçulmano, com a destruição do papado, com a restauração do verdadeiro culto, com o início do milênio terrestre, com o dia do juízo, com a purificação da Terra pelo fogo, ou com o Segundo Advento.11
◊ Nenhuma dessas predições se materializou, e todos os que nelas criam se desapontaram. A profundidade de seu desapontamento ocorreu na proporção da natureza do evento predito. Obviamente o desapontamento daqueles que aguardavam o retorno de Cristo em 1844 foi mais traumático do que o daqueles que aguardavam o retorno dos judeus para a Palestina.12
→ Como resultado de seu desapontamento, muitos desistiram de estudar as profecias ou abandonaram o método historicista de interpretação das profecias, o qual os havia conduzido àquelas conclusões.13 Alguns, entretanto, prosseguiram no estudo das profecias e do assunto do santuário com muita oração e dedicação, focalizando o ministério sacerdotal de Cristo no santuário celestial, em seu favor. Novos e preciosos vislumbres desse ministério recompensaram seus esforços. Descobriram que a histórica fé profética da igreja primitiva e da Reforma ainda era válida. O cálculo do período profético estava correto. Os 2300 anos haviam findado em 1844. Seu equívoco – e de todos os intérpretes daquela oportunidade – foi quanto a sua compreensão de qual evento haveria de ocorrer ao final daquele período profético. Nova luz no tocante ao ministério de Cristo no santuário converteu o desapontamento daquelas pessoas em esperança e alegria.14
Seus estudos dos ensinamentos bíblicos no tocante ao santuário revelaram que em 1844 Cristo veio ao Ancião de Dias e começou a fase final de sumo-sacerdócio no santuário celestial. Esse ministério representava o antítipo do Dia da Expiação com sua purificação do santuário, que Daniel 7 retrata como juízo investigativo do período pré-advento.
Essa nova visão do ministério celestial de Cristo “não representava um afastamento da fé cristã histórica. Ela é, na verdade, o complemento lógico e a consumação inevitável dessa fé. É simplesmente o aparecimento e o cumprimento, nos últimos dias, da ênfase profetizada que caracterizaria o evangelho eterno… no segmento final de seu testemunho ao mundo.” 15
A relação com o Grande Conflito
As profecias de Daniel 7 e 8 expõem as perspectivas mais amplas do resultado final da grande controvérsia entre Cristo e Satanás.
¤ A Vindicação do Caráter de Deus.
Através das atividades do chifre pequeno, Satanás tem tentado desafiar a autoridade de Deus. Os atos desse poder têm lançado opróbrio e pisoteado o santuário celestial, o centro do governo de Deus. As visões de Daniel indicam um julgamento pré-advento no qual Deus emitirá o veredicto de condenação sobre o chifre pequeno, e dessa forma sobre o próprio Satanás. À luz do Calvário, todos os desafios de Satanás serão refutados. Todos chegarão a entender e a concordar que Deus é justo; que Ele não tem responsabilidade pelo problema do pecado. Seu caráter emergirá inatacável e Seu governo de amor será reafirmado.
¤ A Vindicação do Povo de Deus.
Ao mesmo tempo que o julgamento trará condenação ao poder apóstata do chifre pequeno, ele também é empreendido para fazer “justiça aos santos do Altíssimo” (Daniel 7:22). Efetivamente, esse julgamento não apenas vindicará a Deus perante o Universo, mas também o Seu povo. Embora os santos possam ter sido desprezados e perseguidos em virtude da fé em Cristo, conforme o foram ao longo dos séculos, o julgamento recoloca as coisas nos devidos lugares.
O povo de Deus concretizará a promessa de Cristo: “Portanto, todo aquele que Me confessar diante dos homens, também Eu o confessarei diante de Meu Pai que está nos Céus.” (Mateus 10:32; Lucas 12:8 e 9; Apocalipse 3:5).
¤ Julgamento e Salvação.
Porventura o juízo investigativo ameaça a salvação daqueles que crêem em Cristo Jesus?
De modo nenhum. Crentes genuínos vivem em união com Cristo, confiando nEle como intercessor (Romanos 8:34). Sua segurança é a promessa de que “temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (I João 2:1).
Por que, então, o julgamento investigativo antes do Advento?
Ele não ocorre para benefício da divindade. Destina-se, antes, primeiramente ao benefício do Universo, servindo para responder às acusações de Satanás e para garantir aos seres não caídos que Deus permitirá a entrada em Seu reino tão-somente daqueles que verdadeiramente se converteram. Dessa forma Deus abre os livros de registro a fim de permitir uma inspeção imparcial (Daniel 7:9 e 10).
→ Os seres humanos pertencem a uma das três classes: (1) os ímpios, que rejeitam a autoridade de Deus; (2) crentes genuínos que, mediante a confiança nos méritos de Cristo pela fé, vivem em obediência à Lei de Deus; e (3) aqueles que parecem ser cristãos genuínos mas não o são. Os seres caídos conseguem discernir facilmente a primeira categoria. Mas… quem é crente genuíno e quem não é? Ambos os grupos têm seus nomes escritos no Livro da Vida, o qual contém os nomes de todos os que alguma vez entraram no serviço de Deus (Lucas 10:20; Filipenses 4:3; Daniel 12:2; Apocalipse 21:27). A própria Igreja tem em suas fileiras crentes genuínos e crentes falsos, o trigo junto com o joio (Mateus 13:28 a 30).
As criaturas não caídas de Deus não são seres oniscientes; não conseguem ler os corações. “Assim se faz necessário um julgamento – antes da segunda vinda de Cristo – a fim de separar o verdadeiro do falso e para demonstrar ao Universo expectante a justiça de Deus em salvar o crente sincero. A questão tem a ver com Deus e o Universo, não com Deus e o Seu filho verdadeiro. É necessária a abertura dos livros de registro, a exposição daqueles que professam fé e cujos nomes foram anotados no Livro da Vida.16
Cristo retratou esse julgamento através da parábola dos convidados à ceia de casamento que respondem ao generoso convite do evangelho. Pelo fato de nem todos que decidem ser cristão serem efetivamente genuínos discípulos, o Rei reconhece a necessidade de inspecionar os convidados e ver quem possui os trajes nupciais. “Pela veste nupcial da parábola é representado o caráter puro e imaculado, que os verdadeiros seguidores de Cristo possuirão. Foi dado à Igreja ‘que se vestisse de linho fino, puro e resplandecente, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante’ (Apocalipse 19:8; Efésios 5:27). O linho fino, diz a Escritura, ‘é a justiça dos santos’ (Apocalipse 19:8). A justiça de Cristo, Seu próprio caráter imaculado, é, pela fé, comunicada a todos os que O aceitam como Salvador pessoal.” 17
→ Quando o Rei inspecionar os convidados, somente aqueles que estiverem vestidos das vestimentas da justiça de Cristo, tão graciosamente oferecidas no convite evangélico, serão aceitos como genuínos crentes. Aqueles que professam ser seguidores de Deus mas vivem em desobediência e não estão cobertos pela justiça de Cristo, serão apagados do Livro da Vida (Êxodo 32:33).
O conceito de um juízo investigativo de todos aqueles que professam fé em Cristo não contradiz o ensino bíblico da Salvação unicamente pela fé através da graça. Paulo sabia que um dia ele próprio enfrentaria o juízo. Diante desse fato, expressou o desejo de “ser achado nEle, não tendo justiça própria, que procede da lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé” (Filipenses 3:9). Todos os que estão unidos a Cristo possuem a certeza da salvação. Na fase pré-advento do último julgamento, os crentes genuínos, aqueles que possuem uma relação salvadora com Cristo, recebem afirmação perante o universo não caído.
Contudo, Cristo não pode assegurar a salvação àqueles que apenas professam ser cristãos com base nas boas obras que praticam (Mateus 7:21 a 23). Os registros celestiais, portanto, são mais do que apenas um ferramenta que serve para separara os genuínos dos falsos. Também representam o alicerce para confirmação dos crentes genuínos diante dos anjos.
◊ “Longe de roubar ao crente de sua certeza em Cristo, a doutrina do santuário a sustenta. Ela ilustra e esclarece à mente do seguidor de Cristo, sobre o plano da salvação. Seu coração penitente regozija-se ao perceber a realidade da morte substitutiva de Cristo em favor de seus pecados, conforme prefigurada nos sacrifícios. Adicionalmente, sua fé alcança as alturas a fim de encontrar significado num Cristo vivo, que é o seu Advogado sacerdotal na própria presença santa de Deus.” 18
Tempo de Estarmos Prontos
Deus deseja que as boas novas desse último ministério salvador de Cristo seja levada a todo o mundo antes do retorno de Jesus. Nessa mensagem, o ponto central é o evangelho eterno, o qual deve ser pregado num sentido de urgência, pois “É CHEGADA A HORA DO SEU JUÍZO” (Apocalipse 14:7). Esse chamado adverte o mundo de que o julgamento de Deus está ocorrendo exatamente agora.
Estamos vivendo hoje no grande dia antitípico da expiação. Tal como os israelitas eram convocados para afligir a alma naquele dia (Levítico 23:27), assim Deus chama a todo o Seu povo para experimentar arrependimento de todo o coração. Todos os que desejarem conservar seu nome no Livro da Vida devem ajustar suas contas com Deus e com seus semelhantes durante este tempo do julgamento de Deus (Apocalipse 14:7).
O trabalho de Cristo como sumo sacerdote aproxima-se do fim. Os anos da provação humana estão se escoando.19 Ninguém sabe em que momento a voz de Deus proclamará: “Está Feito!” “Estai de sobreaviso, vigiai e orai; porque não sabeis quando será o tempo.” (Marcos 13:33).
Embora vivamos no soleníssimo tempo do dia antitípico da expiação, não necessitamos temer. Jesus Cristo, em Sua dupla capacitação de sacrifício e sacerdote, ministra em nosso favor no santuário celestial. Uma vez que temos “a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote que penetrou os Céus, conservemos firmes a nossa confissão.
Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-Se das nossa fraquezas, antes foi Ele tentando em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado. Acheguemos-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, afim de recebemos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna.” (Hebreus 4:14 a 16).
Nisto Cremos, CPB, 4.ª ed.,1997, pág.408.